Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência: conheça a história de alguns alunos do Ifes
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O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é celebrado nesta quinta-feira (21). A data foi instituída por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, e oficializada pela Lei nº 11.133, de 14 de julho de 2005, de forma a coincidir com o Dia da Árvore, representando o nascimento das reivindicações de cidadania e participação em igualdade de condições, segundo informações do Governo Federal.
Para marcar esse dia, o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) destaca a história de alguns alunos com deficiência que hoje estudam na instituição. São cerca de 60 estudantes que frequentam cursos técnicos e superiores em campi como Alegre, Cariacica, Guarapari, Itapina, Santa Teresa, Serra, Vila Velha e Vitória, além de fazerem formações a distância por meio do Cefor.
No Ifes, eles contam com o apoio das equipes dos Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napnes), que trabalham para garantir seu acesso à educação – um direito de todos os brasileiros, assegurado pela Constituição Federal. Os Napnes utilizam ferramentas e técnicas para garantir a acessibilidade e a inclusão. Tornar a educação acessível significa viabilizar a equiparação das oportunidades em todas as esferas da vida, eliminando barreiras e oferecendo ferramentas que promovam a autonomia dos sujeitos. Dessa forma, todos poderão ser incluídos.
“Por meio dos Napnes e seu fórum, o Fonapne, temos desenvolvido não apenas ações de identificação, acolhimento e atendimento aos alunos, mas também a construção de políticas institucionais e formação continuada”, destaca Sirley Trugilho da Silva, psicóloga do Campus Vitória e atual presidente do Fonapne.
O trabalho dos núcleos e da instituição tem, aos poucos, atraído mais pessoas com deficiência. Sirley lembra que os editais de seleção o Ifes são acessíveis e já incluem ações afirmativas direcionadas a essas pessoas, de acordo com a Lei nº 13.409, de 28 de dez de 2016, e regulamentação do Decreto nº 9.034, de 20 de abril de 2017.
“Observamos que nos últimos processos seletivos há mais procura de informações e mais inscrições de pessoas com deficiência, motivadas pelo ingresso anterior de algum colega com a mesma deficiência e pela maior divulgação dos editais, inclusive em Libras”, aponta.
A seguir, você conhece a história de alguns dos estudantes do Instituto atendidos pelos Napnes e seus planos para o futuro. Clique nos links abaixo (ou nos botões acima do texto) para ler:
Planos para seguir estudando sempre
Superação do luto pela perda da visão
Mais autonomia e interação
Respeito e coragem para aprender
Jornada pelo direito à Educação
Amor pelos animais
Planos para seguir estudando sempre
Leonan Miguel Dueles Rocha é estudante do curso de Agronomia, do Campus Itapina. Ele é surdo, tem 22 anos de idade e conta que encontrou no campus apoio para estudar e planejar o seu futuro. “Nasci no município de Colatina, gosto muito da área biológica e vegetal. Acho o Campus Itapina um referencial nessas áreas, um ótimo lugar para se aprender”, elogia. “Conheci o Ifes por intermédio da minha mãe, que já prestou serviços no campus, quando eu ainda era criança”, relembra.
Com o apoio do Napne, ele tem se empenhado. “O Napne tem contribuído muito para o meu desempenho acadêmico, pois recebo todo apoio necessário para as minhas dificuldades, de acordo com minhas limitações.” Leonan se mostra animado para seguir na vida acadêmica. “Gosto muito de estudar no Ifes, me identifico muito com o curso de Agronomia e já estou fazendo planos. Não pretendo parar só na graduação, quero continuar meus estudos para me tornar um profissional ainda mais qualificado”, destaca.
Superação do luto pela perda da visão
Aos 16 anos, Vandressa Muniz de Almeida teve o nervo óptico afetado pela dengue e perdeu a visão. Muito abalada, ela conta que viveu um período de 10 anos de luto, em que se sentia excluída e incapaz. “No início, eu não aceitava a cegueira, mas com a ajuda de conhecidos e com mais informação passei a conhecer o Instituto Luiz Braille, onde tive a oportunidade de aprender a viver novamente, socialmente, porque antes era excluída da sociedade, não achava que seria capaz de nada”, relembra.
“No Instituto, aprendi que a pessoa com a deficiência, por meio das aulas de mobilidade, informática e braille, poderia ter uma vida normal mesmo com a deficiência. Pessoas conhecidas que já estavam no Ifes me incentivaram tentar o processo seletivo. No primeiro momento, não fui aprovada, mas hoje estou no curso Técnico em Segurança do Trabalho”, relatou.
No começo, ela achou que seria complicado acompanhar as aulas. “Achei que os professores teriam dificuldades em realizar as atividades adaptadas para mim, mas percebi a disposição deles em me atender. Agora no terceiro período percebo que os professores sabem lidar comigo e eu consigo ter mais autonomia na classe. Os professores sempre me procuram para saber qual a melhor forma de me ajudar e atender. No momento que precisa, o estagiário faz a descrição das imagens para mim, principalmente se tiver slides. Mas nas aulas teóricas tenho acesso por meio do programa NVDA, que é um leitor de arquivos”, relata.
Ela conta que recentemente o Napne realizou uma dinâmica em sala de aula para que os colegas entendessem como lidar com a pessoa que tem deficiência visual. “Foi um momento muito importante porque a partir daí passei a ter uma relação melhor com meus colegas. Hoje realizo as atividades em grupo normalmente. Foi uma ação muito importante!”, destaca.
Quando concluir o curso, ela pretende atuar na área da segurança do trabalho. “Algumas pessoas ficam em dúvida se uma pessoa cega pode atuar nessa área. Mas acredito que sim porque tem vários contextos de atuação. Por exemplo, na estatística na área da segurança”, aponta.
Mais autonomia e interação
Emerson Botacin Silva é morador de Venda Nova do Imigrante e foi diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista quando tinha 12 anos de idade. Hoje, aos 16, é aluno do 2º ano do curso Técnico Integrado em Administração do Campus Venda Nova. Para ingressar no Ifes, contou com o apoio de Mariana Pianzzola, que foi sua professora no 9º ano, na escola municipal Atílio Pizzol. Mariana auxiliou Emerson a fazer inscrição do processo seletivo do Instituto.
Ao iniciar os estudos no campus, teve algumas dificuldades de se adaptar à rotina e também de interagir com colegas e professores, o que é característico do autismo. Mas com o apoio da equipe do Napne, tem sido cada vez mais capaz de correr atrás dos seus interesses, fazendo perguntas em sala de aula, trabalhando em parceria com os colegas de turma e revelando-se mais autônomo. Ele vem ainda participando de apresentações de dança e se dispondo a realizar visitas técnicas, como a que se destina a subir o Pico da Bandeira.
Emerson tem agradecido às equipes do campus pelas chances e pela colaboração que tem recebido. O Napne tem auxiliado na adaptação de momentos avaliativos; acompanhamentos em sala de aula; oportunidade de momentos de aprendizagem extra; e apoio na organização da rotina do aluno, considerando que esta é muito importante para o autista, entre diversas outras ações para que ele possa aproveitar o curso ao máximo.
Respeito e coragem para aprender
O respeito e o apoio fizeram o aluno Fabricio Leite Felisberto, 33 anos, mudar de atitude em relação à escola. Ele tem deficiência intelectual e faz o curso Técnico em Segurança do Trabalho – Proeja, no Campus Vitória. Fabrício conta que hoje tem mais coragem para falar sobre seus sentimentos e dificuldades, mas que nem sempre foi assim.
Nascido em Nova Venécia, encontrou problemas para ser aceito na primeira escola na qual foi matriculado. Aos 9 anos, aprendeu a andar, com auxílio dos profissionais da Apae, e depois tentou estudar em uma escola pública, mas conta que não recebia um acompanhamento e era alvo de bullying. Quando se mudou para Vitória, sua mãe o incentivou a fazer a inscrição para o Ifes.
“No Ifes, não se pode zombar das pessoas. Aqui todo mundo me trata bem. Gosto dos professores, dos coordenadores, psicólogos e estagiários pela forma como me tratam. Tenho dificuldades no curso, mas estou aprendendo com o apoio de todos. Hoje me sinto diferente porque aprendi muita coisa boa”, conta. Ele relata que os professores criam atividades adaptadas para ele e têm trabalhado muito bem para que ele aprenda os conteúdos.
Fabricio lembra que, desde de 2013, quando começou a estudar no Instituto, tem tido apoio do Napne. Ele disse ter ficado surpreso com o auxílio recebido. “Eu não esperava. Quando a pedagoga foi na sala para conversar com a turma, eu tinha vergonha de dizer que precisava de suporte. Hoje não tenho mais vergonha. Hoje eu falo quando preciso e procuro as pessoas para me ajudar e esclarecer o que necessito. Tenho mais coragem de dizer o que estou sentindo”, relata.
Quando terminar o curso, ele pretende seguir estudando no Ifes. “Aqui me sinto bem. Se eu for para outra escola, não sei se receberei ajuda. Eu me sinto em casa aqui.”
Jornada pelo direito à Educação
Permanecer na escola foi uma verdadeira luta também na vida de Leticia Andrade da Silva, 21 anos. Hoje, ela cursa o 4º período de Administração, no Campus Guarapari. Mas, para chegar até lá, precisou até da intervenção de uma junta médica. Ela nasceu em Barra de São Francisco e tem Paralisia Cerebral Diplégica Espástica, condição que a leva a utilizar uma cadeira de rodas para se locomover.
Com 1 ano de idade, Leticia se mudou com a família para o município da Serra, onde começou uma dura jornada pela educação. A vivência escolar, antes de chegar ao Ifes, ela resume com duas palavras: “rejeição” e “preconceito”. “Todo início de ano era uma luta para continuar a estudar, com direito a mãe chorando e desmaiando para sua filha usufruir de um direito que é de todos. Houve instituições em que um conjunto de médicos teve que intervir exigindo minha permanência na escola, e outras onde o próprio conselho tutelar teve que intervir. Ou seja, frustrante”, relembra.
Leticia encontrou refúgio no esporte. Depois de 16 anos de fisioterapia, conheceu a natação, que praticou até os 20. “Evoluí bastante, sequer segurava o pescoço e hoje consigo até nadar sozinha. A natação me apresentou um mundo incrível, com ela ganhei várias medalhas, viajei e passei a não me abater tanto com o preconceito. Virou meu refúgio. O esporte tem dessas coisas, lhe aceita como você é. Só tem de achar uma maneira de se adaptar, não há certo ou errado”, pontua.
E foi pela natação o primeiro contato com o Ifes, numa competição esportiva no Campus Vitória. “Naquela competição pude ver a preocupação com acessibilidade, e a integração com diversidade.” Em 2015, ela fez o Enem e decidiu tentar a graduação em Administração, do Campus Guarapari. Ao ver seu nome na lista de aprovados, ela não acreditou. “Lembro que chorava e falava 'eu não mereço, deve estar errado'. E minha mãe dizia: 'parabéns filha, você merece sim, por tudo que já passamos, você é inteligente sim'”.
Com a aprovação, toda a família foi de mudança para Guarapari. “Minha chegada foi de muita felicidade, mas também grandes desafios. O campus está em um lugar pouco privilegiado quanto ao transporte. No primeiro ano, não tinha ônibus adaptado que fosse ao Ifes, nem o município queria ceder um transporte adaptado”, lembra.
Porém, o empenho da instituição para resolver os problemas fez com que ela permanecesse. “Tenho um amor enorme pela instituição, afinal é a primeira que me acolhe e está disposta a fazer de tudo para que eu permaneça. Tenho mesa ideal para a cadeira de rodas, banheiro adaptado, rampas por todo o campus, portas largas, enfim tudo que é necessário e possibilite minha independência no campus.”
E completa: “Acima de tudo, tenho companheirismo e amizade. Sempre que há alguma mudança, procuram por um feedback seja positivo ou negativo a fim de realizar melhorias para mim. Em meio à dificuldade de locomoção encontro apoio da instituição como um todo. Essa atenção, carinho, não é tratar como bebê, é respeito, empatia, isso faz bem, faz crescer”.
Para o futuro, ela tem muitos planos. Cogita se preparar para um concurso público, pensa em caminhos para conciliar a vida profissional com o esporte e planeja fazer vários outros cursos – da graduação ao doutorado. Os maiores sonhos, no entanto, são possibilitar aos seus pais uma vida melhor e trabalhar para a inclusão de fato.
“Embora pareça clichê, quero ser melhor pra mim e pros outros. Para isso, sei que devo estudar mais. Estar à frente ou ser parte de algo que vise à inclusão interativa e não segregada pode ser um tanto ilusório, mas saber que é possível e que posso ser parte da mudança que desejo se buscar isso por meio de estudo e trabalho me deixa feliz”, afirma.
Amor pelos animais
Lorenzo Sampaio Regattieri, 20 anos, nasceu em Vila Velha, porém, em uma visita ao Campus Santa Teresa acabou se encantando pelo local e decidindo que era lá que ele gostaria de estudar. Assim, fez o processo seletivo e tornou-se aluno do Curso Técnico em Agropecuária em 2012. Hoje está no 3º ano.
Lorenzo tem Deficiência Intelectual, Hiperatividade e Transtorno Opositor Desafiador. Ele conta que no começo sofreu bullying dos colegas e teve problemas disciplinares por pegar os animais sem que fosse autorizado e não se dedicar aos estudos. “O tempo foi passando e eu relevei tudo isso, mas agora eu sei que não foi à toa. Eu amo mexer com os animais e eu aprendi muito nesses anos que eu passei aqui no Campus Santa Teresa”, conta.
“O Napne me oferece muita coisa, me ajuda nas tarefas, conversa com os professores, me dá assistência em algumas coisas, prepara material diferenciado para mim”, relata. Ele tem algumas ideias do que fazer depois de ser formar no curso técnico: “Meu sonho é fazer veterinária, ou seguir carreira militar ou ainda trabalhar no Ifes Campus Santa Teresa”. Nessa última opção, diz ter interesse sobre os setores de bovinos, suínos ou caprinos.
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