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Professores unidos pela melhor aula: pesquisadora investiga método de ensino baseado na colaboração

Publicado: Segunda, 16 de Setembro de 2019, 14h10 | Última atualização em Segunda, 16 de Setembro de 2019, 14h27

Ifes tem parceria com universidade dos EUA para medir impactos do Lesson Study, que envolve pensar em conjunto nas melhores lições para temas complexos.

Pensar, estudar, planejar, testar e refletir sobre os resultados em conjunto. Essa é a essência do Lesson Study (em tradução literal, “estudo de lição”), um método de ensino desenvolvido no Japão que tem como base a colaboração entre os professores para chegar às melhores aulas. O tema chamou a atenção da pesquisadora Maria Alice Veiga Ferreira de Souza, do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), que desde 2014 vem se especializando, investigando e ministrando cursos sobre esse assunto.

Docente do Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância do Ifes (Cefor), ela trabalha atualmente em uma pesquisa conjunta com a Universidade Rutgers, da cidade de Newark, em Nova Jérsei, nos Estados Unidos. A cooperação visa compreender como a aplicação de aulas desenvolvidas por meio do Lesson Study são processadas mentalmente, aliando a pesquisa na área de educação matemática (que é a área da pesquisadora) com a de neurociências.

A formalização da parceria surgiu durante o pós-doutorado de Maria Alice, quando ela esteve em Newark, no segundo semestre de 2018, para trabalhar no Lesson Study em uma escola de lá. O pós-doc foi considerado a primeira fase do estudo, agora batizado de “Aligning neurocientific and mathematics education research to understand rational number cognition” (ou “Alinhando a pesquisa neurocientífica e matemática para entender a cognição de números racionais”). São coautores os professores Arthur Powell, da área da Educação Matemática, e a professora Miriam Rosenberg Lee, de neurociências, ambos da Rutgers.

Em maio deste ano, houve a seleção de 10 professores de cada país para serem treinados no Lesson Study. Maria Alice viaja aos Estados Unidos no final de setembro para realizar a formação desses docentes, que depois desenvolverão e testarão as aulas em uma escola de Newark. Simultaneamente, os 10 professores treinados no Brasil farão o mesmo.

Antes e depois do desenvolvimento e aplicação das lições, serão realizados testes psicométricos com todos os envolvidos, que serão posteriormente analisados pela professora Miriam. “Queremos saber como essa Matemática se processa mentalmente. Dependendo da tarefa matemática, acionamos modos mentais diferenciados. A gente faz antes e depois porque queremos ver qual foi o ganho do Lesson Study, tanto para aumentar a compreensão dos professores quanto dos alunos”, contou Maria Alice.

Os pesquisadores da Rutgers visitarão o Brasil no início de 2020, e a previsão é de que todo o trabalho esteja concluído até meados do ano, para divulgação dos resultados. A intenção é contribuir para o surgimento de um alinhamento entre o ensino de conceitos matemáticos fundamentais e a pesquisa neurocognitiva, proporcionando uma capacitação mais especializada dos professores.

Escolha das frações
O conteúdo para o qual serão preparadas aulas nesse projeto são frações e números racionais. Pesquisas anteriores já apontaram que estudantes que não atingem uma compreensão sobre o assunto acabam tendo resultados acadêmicos piores, em geral. Em estudos sobre QI, formação e renda familiar, o conhecimento de frações pode ser um fator preditor de futura ocupação e renda. Os estudiosos apontam que tanto alunos dos Estados Unidos quanto do Brasil têm dificuldades com as frações.
Maria Alice explica que não se faz Lesson Study para todos os conteúdos, mas sim para aqueles considerados mais complexos ou críticos na vida escolar, como é o caso das frações. “Só aquilo que realmente mereça grande atenção e esforço dos professores é feito porque leva vários encontros de dias inteiros só para bolar uma aula ou uma sequência de aulas”, enfatiza.

“Não reinventamos a roda quando fazemos as lições, e o pulo do gato é justamente não pensar coisas mirabolantes. Os professores pegam as pesquisas que já existem a respeito do tema, começam a estudar e testar as potencialidades. É preciso prever por escrito as reações dos alunos. O professor não é o sujeito que dá informações; é o aluno que vai produzir o conhecimento. O professor leva estímulos, mas é o aluno que vai raciocinar a partir de perguntas como: o que este problema te dá? Onde você quer chegar? Qual o contexto?”, detalha sobre o processo.


Romper o isolamento
Além de trabalhar neste projeto, a professora Maria Alice vem percorrendo municípios dentro e fora do Espírito Santo para divulgar a técnica a professores das redes públicas, além de oferecer capacitações no próprio Cefor e ministrar disciplinas no Mestrado em Educação em Ciências e Matemática (Educimat). No município da Serra, já foram quatro semestres trabalhando com professores de Matemática. Ela também ministrou oficinas em Guarapari, Domingos Martins e Anchieta; e estará em Fundão no início de 2020.

Em todas as localidades por onde passa, os professores são conquistados pela ideia do Lesson Study, que tira os profissionais de uma cultura do isolamento. “Temos essa cultura de não mostrar o que sabemos e o que não sabemos. Temos o bullying. Com o Lesson Study, eles veem outro modo de conduzir a sala de aula”, relata a professora. Porém, a dificuldade maior é romper essa barreira com o restante dos colegas de escola para estabelecer um “time”. “É nisso que estou trabalhando agora”, explicou.

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Professora Maria Alice na Universidade de Rutgers.

 

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A professora em escola de Newark onde fez pesquisa de pós-doutorado no segundo semestre de 2018.

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